sexta-feira, 7 de maio de 2010

TEATRO: A ARTE DO DIALOGO



Seria muita ousadia afirmar que o teatro, graças às múltiplas e diversificadas formas que assume, é por excelência o palco do diálogo? Ousadia posta à prova, afirmo e aviso que escrevo sobre mim e meus interesses, logo sobre as minhas verdades. E a verdade apaixonadamente  absoluta que me domina neste instante é a de que é o teatro a maior e mais completa manifestação humana.Digo apaixonadamente, mas poderia dizer patologicamente já que ao que me consta, ambas tem o mesmo radical, entretanto, investigações filológicas à parte,  ao que interessa: o teatro.
O termo teatro deriva do grego theatron, vocábulo este que se utiliza para designar “o local onde se vê”, aludindo ao angulo de visão e à perspectiva de onde podemos observar uma ação ou acontecimento. Diretamente relacionadas a esse termo estão algumas noções como o edifício destinado a espetáculos e representações teatrais, um dos gêneros literários: o dramático; designa ainda o conjunto de obras de um autor (as peças de teatro de Shakespeare), de uma época (o teatro da época clássica), ou ainda o teatro de um país (o teatro nacional, o teatro inglês) e como não poderia deixar de ser: o espetáculo teatral em si, o que implica e direciona a alguns elementos fundamentais, tais como: um espaço cênico, atores, ação dramática e um público que entra nesta realidade ilusória.
Assim como a escrita se realiza na leitura, o “fazer” teatral se realiza no dialogo entre o “Eu”, representado pelo ator, e o “Tu” que é o espectador, isso se entendermos como diálogo uma forma de discurso e modo de expressão  em que dois interlocutores (o “eu” e o “tu”) se alternam reversivelmente interagindo na comunicação, discussão e troca de idéias, informações, sentimentos, pensamentos e atitudes. Logo, o teatro é uma arte social que se baseia na dúvida, pois, o estilo, os temas e as abordagens assentam as suas raízes em dois pólos que desde os tempos mais remotos deixaram ocupadas as mentes mais ousadas: a dúvida e a interrogação.
 Como podemos averiguar em muitos textos que tratam da história do teatro (que não é o nosso foco aqui), desde sua origem ele está associado a uma forma de entender e se apropriar do mundo,  seja para tornar mais compreensíveis fenômenos naturais, tais quais as sociedades primitivas, ou para denunciar os “vícios” de determinada época. Assim chegamos ao teatro contemporâneo que é plural, pois, conjuga e promove o cruzamento de diferentes linguagens vindas de áreas artísticas diversas, (a dança, a literatura, a musica, o vídeo) que ao se interpenetrarem se redefinem e culminam em forma híbrida, heterogênea, uma arte transgressora que dialoga constantemente com outras artes, com a finalidade, única, de manter uma comunicação com o público de agora e expressar os desejos, sonhos, angústias e visões de mundo da alma do homem contemporâneo.
È pouco ou quer mais? O teatro é apaixonante porque coloca o irreversível humano na frente do homem. Desvenda, ensina, intriga, choca, comove, exalta em uma única sentada, mas principalmente incomoda. O incômodo do teatro começa pela possibilidade de decepção e aborrecimento. Prolonga-se na singularidade de nos obrigar a viver um momento em que temos de dar atenção a outros seres humanos, investidos de contadores de histórias. E acaba, eventualmente, se tivermos sorte, no desconforto de lograr tocar-nos, entrando em nós como um veneno e até, conforme a picada e o fluxo sanguíneo, mudar a nossa vida para sempre. Porém, o principal incômodo causado pelo teatro consiste no fato de que ele está sempre a reclamar atenção, a dar nas vistas, a sugerir-nos que mais vale uma noite “assim-assim” que a aridez de uma vida sem teatro.
            Pois é, toda essa verborragia toda para dizer algo tão simples, que é algo entre um apelo desesperado, mais desesperado que tango argentino, e uma convocação: pelo amor de Deus pessoas, não deixem de ir ao teatro. Bueno, voltado à afirmação inicial, se ainda não esta convencido vá e tire suas próprias conclusões. 
Ps: Este texto foi escrito para a revista "Dialogo das artes", ainda não publicada e tals, quando tiver novidades posto aqui. Beijos

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